Ricardo Dias *
O tratamento cirúrgico das doenças complexas da aorta torácica, principalmente os que envolvem grandes extensões da valva, como o arco aórtico e a aorta descendente, sempre representou um desafio para o cirurgião cardiovascular. A operação, realizada em duas etapas, apresentava elevada morbimortalidade em ambas e ainda havia o risco de morte durante a recuperação do paciente, no intervalo de tempo da primeira para a segunda operação.
Com o desenvolvimento tecnológico das próteses a partir de 1996, entretanto, as grandes operações da aorta, como extensos aneurismas, dissecções crônicas e, posteriormente, também, as dissecções tipo A agudas, puderam ser realizadas através de um único procedimento cirúrgico. Atualmente, temos disponível no mercado nacional para uso nessas cirurgias, somente a prótese da figura 1, mas, brevemente, poderemos usar também a prótese da figura 2.
Apesar de a operação com a prótese da figura 2 ser mais trabalhosa do que a cirurgia com a prótese da figura 1, a utilização da prótese ramificada permite realizar a cirurgia com um tempo menor de isquemia sistêmica e miocárdica. Esta é a principal diferença entre ambas: a redução do risco da operação e de algumas complicações, principalmente, de paraplegia. A cirurgia híbrida, como é chamada a combinação da cirurgia convencional com abordagem endovascular, apresenta ainda a vantagem de eliminar a necessidade de uma segunda operação para complementar o tratamento da aorta doente. Com isso, diminui tanto o risco de morte no intervalo entre as operações, durante a recuperação do paciente, como o representado pela segunda operação.
Mas a operação não é simples. Requer treinamento especializado e o envolvimento dos cirurgiões com as equipes de anestesia, perfusão, instrumentação, além de cuidados específicos do pós-operatório. No InCor, esta cirurgia híbrida é realizada rotineiramente desde 2009, com resultados semelhantes aos registrados na literatura internacional. O aspecto final da operação pode ser observado no esquema abaixo (fig. 3) e na imagem de reconstrução da angiotomografia (fig. 4).
* Cirurgião cardiovascular responsável pelo Núcleo Cirúrgico de Miocardiopatias e Doenças da Aorta do InCor
Referência Bibliográfica
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Dias RR, Duncan JA, Vianna DS, ET al. Surgical treatment of complex aneurysms and thoracic aortic dissections with the frozen elephant trunk technique. Braz J Cardiovasc Surg 2015,30(2): 205-10. doi: 10.5935/1678-9741.20140119.
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Mestres CA, Tsagakis K, Pacini D, ET al. One-stage repair in complex multisegmental thoracic aneurysmal disease: results of a multicentre study. Eur J Cardiothorac Surg 2013; 44(5):325-31. doi: 10.1093/ejcts/ezt374.
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Lus F, Fleissner F, Pichlmaier M, ET al.Total aortic arch replacement with the frozen elephant trunk technique: 10-year follow up single centre experience. Eur J Cardiothoracic Surg 2013:44(5):949-57. doi: 10.1093/ejcts/ezt229.