Por Ricardo Dias*
A operação tradicionalmente proposta para a correção das doenças que acometem a raiz da aorta e a valva aórtica é a sua substituição por um conduto valvulado (fig.1).
Muito já se discutiu, porém, sobre qual seria a melhor forma de fazê-lo. Existem várias opções, tais como o homoenxerto, xenoenxerto, autoenxerto, conduto valvulado com prótese mecânica e com prótese biológica; e são diferentes as possibilidades para as diversas faixas etárias.
Muito já foi escrito, também, sobre as possibilidades de correção da raiz da aorta com a preservação da valva aórtica, independentemente dos graus de insuficiência aórtica. Não foram poucas também as considerações sobre sua inaplicabilidade para os pacientes e sobre as dificuldades de assimilação das técnicas do método por todos os cirurgiões.
Menos infecções e complicações
Qual seria a justificativa de se fazer um procedimento mais difícil, que não pode ser utilizado para todos os pacientes e nem por todos os cirurgiões (fig. 2).
Em poucas palavras, porque uma boa valva nativa será sempre melhor do que a prótese mais desenvolvida. A literatura e nossas pesquisas mostram que, no longo prazo, os pacientes que ficam com a valva aórtica nativa apresentam menos complicações infecciosas, comparados àqueles que receberam prótese.
Os que ficam com a valva também apresentam menos complicações hemorrágicas porque não precisam do anticoagulante oral, que passa a ser de uso obrigatório para os pacientes com a prótese aórtica mecânica. Outro inconveniente da prótese mecânica que é mais utilizada nos nossos pacientes é o ruído que ela produz, semelhante a um “tique-taque”, que incomoda a maioria.
Se existe a opção de realizar uma cirurgia com o mesmo resultado e que simplifica o cuidado do paciente no pós-operatório, esta escolha deve ser perseguida, mesmo sendo de execução mais difícil. Principalmente quando deficiências do nosso sistema de saúde dificultam a identificação, encaminhamento e o necessário tratamento dos pacientes.
*Cirurgião cardiovascular responsável pelo Núcleo Cirúrgico de Miocardiopatias e Doenças da Aorta do InCor
Referência Bibliográfica
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